Especial pandemia: as consequências na elite da BFA – Conferência Nordeste

Com Maurício da Silva Junior

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Arte: Salão Oval

De forma inevitável, as consequências da pandemia do Covid-19 estão sendo sentidas pelo futebol americano no Brasil desde março. Com a necessidade de isolamento social, passamos pela suspensão de todos os campeonatos e de grande parte das atividades das equipes.

O período de quase seis meses nesta situação possivelmente seja mais longo do que a maioria da comunidade imaginava no início da pandemia; e ainda não há perspectiva de retomada do esporte de forma sustentável.

Para entender os impactos sofridos nesses últimos meses, abordamos todas as equipes da BFA Elite para um mosaico desta atualidade tão peculiar.

Após abordarmos a Conferência Sul e Sudeste, nesta terceira parte da matéria especial sobre os efeitos da pandemia do Covid-19 nas equipes da BFA Elite, conversamos com os oito times da Conferência Nordeste.

Diego Martins, presidente do João Pessoa Espectros, atual campeão brasileiro, indica que aguarda o retorno das atividades para identificar se haverá perda de jogadores no plantel, mas aponta que a comissão técnica permanece sólida e poderá contar com um bom número de colaboradores para a próxima temporada.

Neste período de paralisação das atividades, enquanto a comissão de saúde da equipe desenvolve um protocolo de retomada de treinos, a comissão técnica está mantendo clínicas online para preparação física e de saúde mental. Administrativamente, Diego indica que a diretoria está organizando novas estratégias de marketing e prospecção de patrocínios, apesar de acreditar que 2021 será um ano de retração financeira, situação que deve atingir diretamente o esporte.

Como a grande maioria dos gestores, Diego também aponta que a temporada “parada” está sendo aproveitada para melhorar a organização e a recuperação de atletas. “É algo atípico e que nos permite organizar melhor e pensar com mais tranquilidade no ano seguinte. Acreditamos também que é um ano de cuidado, prevenção de lesões e de pausa para nossos atletas que estão, em sua maioria, jogando há uns bons anos ininterruptamente”.

Para a próxima temporada, a expectativa dos atuais campeões nacionais não poderia ser diferente. “Novamente brigar para ser campeão, nossa meta é ser o primeiro time Tri campeão no país e tentaremos fazer isso com o mesmo empenho que temos trabalhado durante toda a nossa trajetória”, complementa.

Roberto de Lemos, General Manager do Recife Mariners, aponta que a equipe estava apostando alto na temporada, lamentando a necessária paralisação das atividades. “Viemos de uma temporada muito boa em 2019 e queríamos chegar em 2020 ainda mais forte. Apostamos em trazer os dois jogadores americanos desde o primeiro dia de treino, no caso em março, e isso gerou um custo muito alto visto que não tivemos temporada e nem retorno financeiro”.

Financeiramente, Roberto aponta que a principal receita da equipe era o pagamento das anuidades dos atletas, que cessou por completo na atual situação. Também acredita alguns atletas mais velhos, que possivelmente já se aposentariam nesta temporada, provavelmente não retornarão para 2021, mas deverá aguardar o retorno das atividades para mensurar.

A equipe também manteve atividades online para implementação de playbook, análise de jogos e palestras com head coaches de outros times. Administrativamente, a diretoria desenvolveu a campanha comemorativa da 15ª temporada, que será lançada em 2021 com o lançamento de novo uniforme.

Por fim, Roberto aponta que a entidade está aproveitando a situação para focar na parte organizacional, procurando novos caminhos para o crescimento e desenvolvimento fora de campo, e indica otimismo para a próxima temporada de competições. “Pretendemos chegar em 2021 muito mais fortes do que chegaríamos em 2020 e o título da BFA é o nosso objetivo”, finaliza.

Silvana Moreira, diretora do Ceará Caçadores, comenta que a paralisação das atividades ocorreu logo após um tryout realizado pelo time, que resultou em renovação de aproximadamente 50% do elenco, além da chegada do novo head coach Richard Lowrey.

A equipe também manteve atividades remotas, com instruções para atividades físicas com orientação do setor de fisioterapia e do head coach, além de reuniões teóricas com as equipes full pads e de flag.

Financeiramente, houve a interrupção das receitas com mensalidades, mas a equipe manteve sua loja de produtos oficiais ativa, destacando a venda de jerseys personalizadas em conjunto com atletas, que foram comissionados por suas vendas como forma de incentivo.

Silvana comenta que o processo de captação de patrocínios estava em andamento no momento da chegada da pandemia, exigindo sua interrupção, mas que a diretoria está aproveitando a situação para planejar de melhor forma estes trabalhos para 2021. Destacou a renovação da parceria com uma rede de academias da cidade, permitindo a manutenção da preparação física dos atletas.

Questionada sobre “boas experiências” extraídas do atual cenário, Silvana indica resiliência: “Temos que encarar essa pausa “forçada ou precisa” para refletir como time em campo e também no extracampo. Analisando tudo que precisa melhorar, até por que nenhuma equipe é 100% sempre temos pontos a melhorar em individual e no coletivo”.

Para a próxima temporada, Silvana aponta que a equipe continuará contando com a participação do head coach Richard Lowrey e projeta a contratação de reforços nacionais e estrangeiros. “O importante é que mesmo nessa “pausa” estamos trabalhando já para fazer 2021 acontecer com ações e preparação”, finaliza.

Heitor Medeiros, head coach do Bulls Potiguares, indica que a equipe perdeu alguns apoiadores neste período e segue buscando novos para a próxima temporada, mas uma visão mais clara será possível somente no início de 2021. Heitor aponta que não teriam ocorrido baixas no elenco até o momento.

A comissão técnica contou com a chegada de novos componentes e foi reformulada com a implementação de nova filosofia para as próximas temporadas e determinação mais clara das responsabilidades de cada integrante.

A equipe também manteve treinos remotos semanais durante este período, e Heitor destaca que a situação foi proveitosa para o desenvolvimento de novos atletas e do próprio conceito de “time”: “Conseguimos uma evolução em conhecimento e união dentro da equipe, aprendendo coisas que demoraríamos anos”, complementa.

Para o ano de 2021, Heitor destaca que os jogadores poderão utilizar campo próprio para realização dos treinos e espera que a entidade possa realizar o melhor planejamento possível dentro da realidade que enfrentará, corrigindo os erros de 2019 e utilizando o conhecimento obtido durante o período da pandemia.

Mateus Araújo, vice-presidente do Santa Cruz Pirates, acredita que a equipe sofreu bastante com o cenário de pandemia, pois contava com altos investimentos em comissão técnica e jogadores, resultando em adiamento de contratos de patrocínios. No entanto, espera manter o planejamento para a próxima temporada.

Os treinos remotos foram mantidos de forma semanal, incluindo interação com a equipe do Galo FA e palestras com nomes consagrados no FABR, como Igor Mota, Lener Fernandes e Daniel Vasques. Também foi realizada seletiva para comissão técnica, cujo processo de treinamento permanece em andamento com o head coach Rodrigo Salimena.

Mateus aponta que as dificuldades enfrentadas neste período obrigaram as entidades a refletirem sobre sua posição perante as demais envolvidas no esporte. “A lição que esperamos que todos levem a diante é a necessidade da mútua colaboração entre os times para que possamos sempre alçar voos mais altos. Ainda somos de um esporte economicamente frágil de forma geral, e determinadas ações teriam um impacto muito maior com a união dos times”, acrescenta.

Questionado a respeito da próxima temporada, Mateus acredita que a pandemia somente adiou os projetos previstos para este ano, e que em 2021 será possível a continuidade da reformulação estrutural e técnica da instituição.

Thiago Nascimento, o Mutley, presidente do Cavalaria 2 de Julho, indica que o principal desafio neste momento está sendo manter os atletas motivados e engajados com o esporte, especialmente os novatos.

A equipe também está mantendo treinos remotos, e Thiago indica que os mesmos estão sendo bastante proveitosos para estudo da parte teórica, muitas vezes deficiente durante a temporada, principalmente para os novatos.

Além disto, o núcleo de saúde criou periodização de treinos em casa, e o retorno das atividades em academia está em andamento após a liberação da sua utilização nas últimas semanas. O retorno de coletivos está previsto para Novembro ou Dezembro, e seguirá as orientações do Estado e do Município.

Thiago aponta que a coordenação técnica da equipe foi alterada no início do ano e está aproveitando a situação para melhor organização e desenvolvimento de treinos e playbook para a próxima temporada, e os atletas estão conseguindo mais tempo estudar e tratar lesões.

Por fim, a diretoria está se organizando para iniciar novos projetos em 2021 e pretende desenvolver uma equipe forte e competitiva para realizar uma boa temporada e, extracampo, fortalecer ainda mais o esporte no estado.

Linniker Ramon, diretor executivo do Petroleiros, indica que a equipe manteve as parcerias com a UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido e com a administradora do estádio Nogueirão, possibilitando a utilização de infraestrutura para treinos, reuniões, aulas e realização dos jogos quando houver retorno destas atividades.

A equipe liberou os atletas para treinar por conta própria, com acompanhamento do treinador quando necessário. Linniker destaca a situação do quarterback Lucas Vinicius, que passou por período de treinamento na equipe do Brno Sigrs, da República Tcheca, participando de uma partida antes do retorno ao Brasil.

Para Linniker, a desmobilização dos atletas foi natural diante do longo período de inatividade, mas a entidade vem mantendo contato com todos e pretende retomar os treinos em campo assim que houver autorização dos órgãos oficiais. Destaca que o elenco é reduzido comparado a outros times e a equipe não possui histórico de trazer atletas de outros locais, apenas os estrangeiros dentro das possibilidades.

Administrativamente, a diretoria permanece em contato com seus parceiros para minimizar os impactos da paralisação e permitir o cumprimento das obrigações financeiras. Além disto, alguns ajustes na organização estão sendo estuados, e serão anunciados em momento oportuno caso sejam colocados em prática.

Linniker entende que todos os times estão extraindo boas experiências da situação, especialmente sobre como sobreviver em tempos de incertezas. “Digo isso baseado no nível de organização que os times estão adotando nos últimos anos e as perspectivas bastante positivas que estávamos tendo no esporte como um todo”, acrescenta.

Com relação ao futuro do esporte, também apresenta otimismo: “Também é certeza de que o esporte vai sobreviver e manter seu ritmo de crescimento, mesmo que eventualmente demore um tempo pouco maior do que o esperado. Estamos vivendo um período onde toda a evolução que o esporte teve está sendo fortemente testada”.

Questionado a respeito das expectativas para a próxima temporada, Linniker mantém os pés no chão.  “Precisamos […] fazer uma temporada digna e não correr riscos desnecessários. Com isso, os resultados positivos virão naturalmente e poderemos lutar pela nossa sonhada vaga inédita nos playoffs, que já bateu na trave várias vezes nos últimos anos”, completa.

Alexandre César, presidente do Caruaru Wolves, promovido à Elite após o título da BFA Acesso, indica que os parceiros e patrocinadores da equipe precisaram renegociar acordos para permitir a saúde financeira de todas as partes, mas ainda aponta preocupação com o futuro: “Evidentemente que com um corte em nossos recursos e a impossibilidade de realizar jogos, somado ao fato de estarmos impossibilitados de prever uma retomada da vida como a conhecíamos, então ainda observamos que existe a possibilidade da crise se prolongar”.

Após longo período somente de forma remota, Alexandre aponta que recentemente foram retomadas reuniões presenciais da diretoria, e destaca que o grupo fundador da entidade em 2014 permanece presente até hoje na equipe, facilitando a comunicação e resolução de conflitos.

Por fim, Alexandre indica esperança acerca de vacina e consequente retorno gradativo das atividades normais, mas que a atual situação inviabiliza a retomada de treinos. “Até o momento, acreditamos que só valerá a pena pensar em um campeonato e dar a início a uma temporada quando houver uma vacina circulando no país”, finaliza.

> Veja como classificação final da Conferência Sudeste da BFA Elite em 2019
> Protocolo de retorno às atividades – CBFA

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