“Tempo estratégico” deve marcar ataque da Seleção no México

Com Henrique Riffel

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Brian Guzman, técnico da Seleção Brasileira de Futebol Americano, durante o training camp em Itapecerica da Serra (março, 2022) Foto: Chiarini Jr.

A Seleção Brasileira masculina de Futebol Americano tem um difícil desafio programado para janeiro do próximo ano: o time irá disputar um torneio classificatório para o Mundial da Alemanha em meados de 2023. A princípio, apenas uma vaga será reservada para Brasil, México, Chile e Panamá.

> Entenda como deve ser o classificatório

A lista de convocados já foi divulgada, mas quais são os aspectos técnicos que prevalecerão no jogo do Brasil Onças? O que poderia ter ocorrido de diferente nesta preparação? Que detalhes específicos o México pode trazer de surpresa?

Para responder todas essas questões, o jornalista e especialista Henrique Riffel entrevistou o head coach da Seleção Brasileira, Brian Guzman. Confira:

Salão Oval — O quão prejudicial foi a não realização do all-star game contra o Europe Warriors na preparação do Brasil Onças nesta eliminatória americana, e o que é possivel tirar de proveitoso do único scrimmage na temporada?

Brian Guzman — Foi prejudicial no sentido de não ter conseguido jogar o jogo completo de quatro quartos, contra um adversário que teríamos nos preparado para enfrentar. Acho que teria sido uma excelente oportunidade de dar um kickoff na experiência internacional de muitos jogadores que estavam na seleção. Infelizmente, não foi possível, mas, foi uma semana muito proveitosa. O camp construiu as bases na dinâmica de trabalho da comissão técnica, que pode conhecer os jogadores que formam esta convocação para a classificatória. A pesar de não ter jogado, podemos ver como as pessoas se comportam neste ambiente competitivo dentro da seleção. Acho que saímos com mais coisas positivas do que negativas.

SO — Baseado no power spread offense, independente do personell que usar, o Brasil Onças é muito mais atlético e rápido em relação a convocações anteriores. O plano é seguir com uptempo e no huddle offense como tinha-se ideia no amistoso contra a Argentina Halcones, em 2017?

Guzman — Acho que a questão de tempo ofensivo, na verdade, prefiro usar o termo tempo estratégico. Você não quer jogar rápido o tempo inteiro e não quer jogar lento também. Acho que a capacidade de conseguir alterar ou mudar o tempo com o que você está jogando é parte de um bom ataque do power spread offense. Obviamente, no ambiente da seleção, a gente tem pouco tempo de preparação, onde você quer evitar erros procedimentais ou complicar demais as coisas para os jogadores. Levamos coisas mais simples de tudo o que você faz em um offseason ou ano completo de preparação de um time normal. Mas, jogar rápido fará parte do plano de ataque da seleção brasileira, só que de uma forma diferente e com mais de um tipo de tempo para controlar o jogo.

SO — Caso se confirme os jogos em solo mexicano e com a possibilidade de ser em alta altitude, como gerenciar a fadiga dos dois lados da bola? Há um planejamento prévio de controlar o condicionamento dentro de campo em que os atletas consigam ter elevada taxa de VO₂ max durante os jogos?

Guzman — O Bruno Rosa é o nosso coordenador de força e condicionamento físico. Ele está fazendo a pesquisa dele, estudando e vendo qual será a melhor abordagem para a gente tentar minimizar o impacto da altitude sobre os jogadores. Obviamente, a situação ideal seria chegar com uma ou duas semanas de antecedência para que todos conseguissem adaptar o corpo a altitude daqui do México. A gente sabe que isto não é realista. Então, vamos tentar chegar com alguma antecedência, de dois ou três dias, se possível, para o pessoal ter chance de começar a se aclimatar e não ter de jogar no dia seguinte ao que chega aqui. Enquanto isso, o Rosa vai passar algumas recomendações importantes para o pessoal incorporar nos treinos do que vai enfrentar lá. Óbvio que é muito difícil simular os efeitos da altitude, mas, de uma forma ou outra, você consegue simular os efeitos da pouca oxigenação no sangue, que é a principal causa da sensação que sua performance está caindo. Então, estamos pesquisando e vendo um plano para conseguir minimizar estes impactos.

SO — Até onde o turf será um obstáculo, quando a maioria dos jogadores brasileiros está acostumada a campos com grama alta e terreno pesado? O que fazer para que a adaptação seja o mais breve possível?

Guzman — A questão do campo sintético é o mesmo que enfrentamos quando chegamos no Mundial de 2015. Era a primeira vez que muitos jogadores estavam jogando neste tipo de piso. Dentro do Brasil, acho que ainda é muito difícil você encontrar um campo de turf. Mas, o pessoal que jogou no exterior já teve algum tipo de experiência com isso. É um campo mais rápido, então, acaba favorecendo jogadores que estão acostumados a jogar em grama natural. Porém, tem de ter mais cuidado com ligamentos e articulações, porque o impacto também é maior no corpo. De forma geral, é mais fácil você fazer a transição da grama natural para o sintético do que o contrário.

SO — Infelizmente, não há filme de jogos recentes das três seleções rivais. O último evento do Panamá, por exemplo, foi o International Bowl XI, em 2020, com o Panamá Sharks U16 e U19 contra o USA Football, em Arlington/Texas. É possível mapear prospectos deste time que os Onças irão enfrentar ou é melhor encarar o adverário e conhecê-lo na hora?

Guzman — O cenário internacional é este. Acho que das quatro seleções que vão atuar, talvez, o Brasil seja o que mais tenha vídeo disponível. Esta é a realidade, não tem muito o que chorar em relação a isto. Você tem que levar o seu sistema básico e conseguir adaptar baseado no que vê em campo. Então, tem que levar um conceito que funcione em mais de um tipo de frente, de cobertura e ter o coaching staff pronto para identificar o que o outro time está fazendo, pelo menos, no primeiro jogo e conseguir adaptar rápido no campo. Não acho que vale a pena tá caçando vídeo de time sub-19 para saber quem é que vai estar ou não. Acho que este tempo é melhor se servirmos para dedicar a melhorar o entendimento e o domínio que nossos jogadores têm do sistema. Para o segundo jogo é mais fácil, porque você tem o vídeo do primeiro. E sim, para este primeiro jogo é um desafio e você precisa ser bastante versátil no que se está levando.

SO — Do camp de Itapecerica da Serra até o momento, o corpo de defensive backs foi o que mais sofreu alteração. O que foi percebido da convocação do verão deste ano para agora?

Guzman — Houve defensive backs que tiveram um excelente camp e temporada. Estes que foram bem continuam na convocação. E também houveram outros DBs que apareceram na temporada também. No final das contas, é uma posição muito complicada, porque é o lugar que mais corre o risco de exposição quando você joga com um time que tem o talento igual ou superior ao seu. Conhecendo os atletas de habilidade e recebedores que o México vai levar para este classificatório, a gente procurou um tipo específico de defensive back: que sejam excelentes atletas, altos, tenham um tipo de envergadura nos braços, que possam jogar man press para dar a nossa defesa a oportunidade de pressionar, além de serem pessoas que tenham a capacidade atlética de correr contra bons adversários. Sem esquecer, obviamente, que sejam excelentes tackleadores. Acho que estes foram os índices técnicos para definir os defensive backs.

> Confira a lista de convocados

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Editor-chefe do Salão Oval, maior plataforma de mídias destinada ao FABR, Social Media Journalist da FIVB (Federação Internacional de Vôlei) e Social Media Editor para a Premier League (Campeonato Inglês de Futebol). Realizei coberturas nacionais pelas cinco regiões do Brasil e também nos EUA (Mundial de Ohio) e Perú (1º Torneio Guerrero de Los Andes), sempre acompanhando o futebol americano nacional de perto. Narrador e comentarista para o futebol americano nacional em diversas ocasiões (BandSports, Fox Sports e Globo Esporte.com), fui também jogador da Lusa Lions (flag 2008) e do Corinthians Steamrollers (2009 a 2012).

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