Futebol americano invade as arenas: você imaginava isso na Copa?

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Há exatos três anos, Philipp Lahm levantava a taça de campeão do mundo em pleno Maracanã lotado. Para os brasileiros, aquele foi mais um amargo dia na história do nosso futebol, já que todos esperavam que o Brasil conseguiria expurgar os demônios da final de 1950 e vencer uma Copa do Mundo no maior templo sagrado do esporte no País.

É óbvio que todos sabemos o desfecho da história que foi contada dentro dos gramados, mas poucos são aqueles que enxergam o legado que foi deixado pela nomeação do Brasil como País-sede do Mundial encerrado há três anos.

Anúncio do Brasil como país sede para Copa do Mundo FIFA 2014 / Foto: AP

O legado da Copa

Há exatos três mil quinhentos e quarenta e quatro dias, o até então presidente da FIFA, Joseph Blatter, anunciava ao mundo que o Brasil seria o País-sede da Copa do Mundo de 2014.

Ainda é oportuno ponderar se os investimentos feitos na construção ou reforma dos estádios que tiveram partidas da Copa do Mundo se tornaram estruturas viáveis para os seus gestores, sejam eles do setor público ou privado. Ou como dizia-se popularmente antes do grande evento: “imagina na Copa”.

Com uma mescla de eventos esportivos, corporativos e de entretenimento, as arenas tentam manter sua saúde financeira. A dificuldade de não gerar prejuízo tornou-se latente em alguns casos. Em matéria recente feita pela BBC Brasil, foi apontado que a manutenção da Arena Pantanal, por exemplo, custa R$ 700 mil por mês, gerando um prejuízo gigantesco para os cofres públicos do estado do Mato Grosso.

Uma possibilidade de renda para algumas arenas foi sediar partidas do Campeonato Brasileiro com times da região Sudeste, como Flamengo e Corinthians, que possuem torcedores fanáticos em diferentes estados do Brasil. Com uma proibição imposta pela Confederação Brasileira de Futebol no ano de 2016, as equipes foram impossibilitadas de transferir seus mandos de campo para outros Estados; desta forma, a venda de mandos de campo parou de ser uma fonte de recursos.

50% de Arenas já sediaram partidas de futebol americano

A necessidade de encontrar novas fontes de renda para as arenas conseguirem sair do vermelho e o rápido crescimento de fãs de futebol americano no País uniu o útil ao agradável.

Em três anos, já são cinco arenas construídas para a Copa do Mundo de 2014 que tiveram partidas de futebol americano em seus gramados. A mais recente delas foi no duelo entre Bulls Potiguares e João Pessoa Espectros, que fizeram a primeira partida de futebol americano na Arena das Dunas.

Além das Dunas, também já houve partidas na Arena da Amazônia (uma), Arena Pantanal (cinco), Arena Pernambuco (três), Beira-Rio (uma) e Mineirão (uma).

A próxima parada da bola oval em uma Arena da Copa 2014 será no gigantesco Estádio Nacional em Brasília, que no dia 12/08 será a casa do confronto entre Tubarões do Cerrado e Goiânia Rednecks.

Mariners e Espectros disputaram a primeira partida de FA em um estádio de Copa do Mundo / Foto: Gabriel Siqueira/Recife Mariners

Arena de Pernambuco – A primeira a abrir as portas para o FABR

Pouco mais de quatro meses depois do final da Copa do Mundo de 2014, a primeira arena já abria as portas para o futebol americano.

Pela Superliga Nordeste, o Recife Mariners enfrentou o João Pessoa Espectros para 7.054 mil pessoas que presenciaram a história na Arena Pernambuco.

“A razão de ter sido aqui o primeiro jogo de futebol americano no País são duas: o público, que desde 2013, quando jogamos no Aflitos, mostrou-se fiel e compareceu aos estádios naquele ano, nos dando uma média de público altíssima; e o outro foi Joe Rizzello. Ele trabalhou na federação italiana de futebol americano e trabalhava na empresa que gerencia a Arena. O nosso crescimento gerou o interesse de Joe em levar a partida para a Arena, pois ela era muito funcional e que tínhamos público para fazer um evento de sucesso”, comentou Júlio Adeodato, presidente do Recife Mariners à época.

O desenvolvimento de maneira estratégica do futebol americano no Nordeste foi um dos pontos que propiciaram tal evento. Com equipes focadas no desenvolvimento geral da modalidade, os diretores da Arena Pernambuco, em conjunto com a Superliga Nordeste de Futebol Americano, constataram a viabilidade real de um jogo lucrativo para ambas as partes.

“Depois do jogo, tivemos um feedback muito positivo. Havia um agrônomo da Arena preparado para avaliar o desgaste do campo logo que acabássemos a partida. Ele avaliou que é o mesmo desgaste de um jogo de futebol. Além disso, a repercussão com os gestores da Arena foi muito boa. Eles reforçaram o fato de que não tivemos problema com as duas torcidas e que o ambiente era muito agradável. Colocamos ao final do jogo alguns torcedores para subir e agradecer a torcida e os gestores ficaram contentes com o resultado de um esporte diferente do futebol”, afirmou Adeodato, ex-presidente do Recife Mariners

Jogos disputados na Arena de Pernambuco

DataMandanteHor/ResVisitanteLiga
Superliga Nordeste (Playoffs)
Superliga Nordeste (Playoffs)
Campeonato Pernambucano (Playoffs)
BFA
BFA
BFA
BFA
BFA Acesso
BFA
BFA Acesso
BFA
BFA
BFA
BFA
BFA (Playoffs)
BFA (Playoffs)
BFA
BFA
Copa Nordeste
BFA (Playoffs)
BFA (Playoffs)
BFA (Playoffs)
Chico Valdiner – Gcom/MT

Arena Pantanal – Público maior que em jogos de futebol

Depois de conseguir a primeira colocação na temporada regular, o Cuiabá Arsenal usou todo o seu engajamento nas mídias sociais para demonstrar que a equipe estava preparada para sediar um evento de tal magnitude.

Com meses antes do evento, os cuiabanos já preparavam uma campanha para quebrar o recorde de público em uma partida de futebol americano no País, que perdurava desde a final entre Coritiba Crocodiles e Fluminense Imperadores, que foi vista no Estádio Couto Pereira, na capital paranaense, por aproximadamente sete mil pessoas.  

Os organizadores conseguiram levar ao estádio 15.197 mil pessoas, quebrando o antigo recorde de público e deixando uma impressão positiva para os gestores da Arena Pantanal, já que o local também sediou naquele ano alguns jogos de futebol com público inferior ao jogo entre Arsenal e Crocodiles, como por exemplo Corinthians e Cruzeiro, que registrou 11.773 pagantes.  

Foto: Walter Murta

Estádio Mineirão – Minas Bowl acaba com chave de ouro

O embate entre BH Eagles e Minas Locomotiva já tinha tudo para ser um grande evento, porque colocaria frente a frente o fenômeno da gestão esportiva no futebol americano contra a equipe mais vitoriosa do estado.

“Conseguimos chegar até o Mineirão através Secretaria de Esportes que marcou a reunião e acompanhou todo o processo. Foi isso que abriu as portas para a realização da final na Arena”, comentou Abraão Coelho, presidente da Federação Mineira de Futebol Americano.

Os gestores do Campeonato Mineiro já tinham conseguido mandar sua partida de estreia da competição na Arena Independência, mas a conquista de sediar a final do campeonato no Estádio Mineirão chegou para coroar com chave de ouro aquele ano.

Em uma partida decidida nos detalhes, o Minas Locomotiva levou a melhor e levantou a taça de campeão. De qualquer modo, quem saiu vitorioso daquela partida foram todos os que acreditam que o futebol americano mineiro já estava pronto para sediar um jogo com aquela magnitude.

Foram 8.720 torcedores presentes na primeira partida de uma Arena da Copa do Mundo na região Sudeste do país. A reverberação foi tão impactante para os times, que o estado de Minas atualmente é um dos que apresenta o maior número de nascedouros de novas equipes.

“Já foi cogitado (ter outros jogos no Mineirão). Eu sei que houve uma tentativa de realização desse jogo de abertura entre Minas Locomotiva x Sada Cruzeiro (jogo deste final de semana) no Estádio e que houve abertura. O maior impeditivo sempre são as datas. O campo precisa de pelo menos uma semana para que todas as marcações sejam removidas — esses campos não removem de fato, eles deixam a grama crescer e, com o corte, as marcações vão saindo”, comentou Coelho.

Jogos disputados no Estádio Mineirão

Foto: Márcio Nunes & Gregory Alvanoz

Beira-Rio – Sou Gigante Bowl, Eu vou Gigante Bowl

Em uma noite fria, com mínima de 5ºC, 12.066 pessoas, aos cantos de “Sou Gigante Bowl, Eu Vou Gigante Bowl”, assistiram ao Santa Maria Soldiers levantar a taça de campeão do Rio Grande do Sul após derrotar o Juventude F.A. por 21 a 03.

A maior demonstração de apoio de uma equipe de futebol para o futebol americano foi vista no Gigante Bowl. O Internacional de Porto Alegre, na pessoa de seu diretor administrativo Alexandre Limeira, realmente fez de tudo para que o evento fosse o maior já visto na região Sul do País.

“Tudo partiu da iniciativa de nosso diretor de marketing na época, Max John Dutra, de criar um provocação sadia nas redes sociais questionando o torcedor de futebol americano de ‘como seria uma final do Gauchão de Futebol Americano no Beira Rio, ou na Arena do Grêmio’. A partir daí, o Internacional, na figura do diretor administrativo Alexandre Limeira, nos procurou mostrando interesse em sediar a final no Beira Rio.”, comentou Jeferson Mendes, presidente da Federação Gaúcha de Futebol Americano

Com um espetáculo de luzes da torcida e do estádio, além de shows do Tchê Barbaridade e da cantora Kátia Aveiro, irmã do craque Cristiano Ronaldo, o evento demonstrou mais uma vez que o futebol americano conseguiria trazer grandes públicos para os estádios e, além disso, ser uma frente confiável para grandes administradores investirem seu capital.

“Como foi a primeira vez que estávamos levando nosso esporte a um estádio gaúcho da dupla Grenal, havia uma série de possibilidades novas. Então tivemos atenção em todos detalhes para deixar tudo o mais próximo possível do usado nos Estados Unidos. Desde o corte e o penteado da grama a cada cinco jardas, passando pelos telões, transmissão, recepção dos times e espectadores. Além disso ainda tivemos shows e um esquema especial de comunicação entre árbitros, com delegado na beira do gramado e transmissão da partida”, comentou Jeferson Mendes, presidente da Federação Gaúcha de Futebol Americano

Jogos disputados no Beira-Rio

DataMandanteHor/ResVisitanteLiga
Campeonato Gaúcho (Playoffs)
Foto: Silvio Lima

Arena da Amazônia – Final inédita em gramado histórico

A final da décima primeira edição do Amazonense de futebol americano foi realizada em uma histórica quinta-feira, quando North Lions e Manaus Broncos fizeram a primeira partida de futebol americano na Arena Amazonas.

A conquista da Federação Amazonense de Futebol Americano em conseguir fechar a competição de 2016 em um estádio da Copa foi uma grande surpresa para todos os fãs de futebol americano. O evento foi um enorme sucesso, com mais de 8.515 pessoas presente na Arena.

Dentro dos gramados o North Lions levou a melhor e levantou a taça ao vencer o Manaus Broncos por 17 a 14. Fora de campo, o futebol americano tomou proporções inimagináveis, com a FEFAAM conseguindo maiores parcerias para a competição deste ano e incentivos governamentais para ajudar ainda mais a modalidade dentro do estado.

A maior definição de que o esporte está crescendo na região Norte e que o setor público está de olho em todo o desenvolvimento das equipes e da modalidade no estado do Amazonas chega através de uma declaração de Fabrício Lima, Secretário de Esportes e Lazer, que destaca como obrigação do poder público apoiar a prática esportiva, principalmente dos esportes que vem ganhando apoio popular: “O Governo do Estado, seja do Amazonas ou de qualquer lugar do País, tem que fomentar isso. O futebol americano no ano passado trouxe um público maravilhoso para a Arena da Amazônia (registro de mais de 15 mil pessoas durante todo o Manaus Bowl XI) e movimentou nossa economia. Também há a questão da qualidade de vida e temos números que mostram que os amazonenses estão mais e mais praticando atividades físicas, e, por isso, temos a obrigação de apoiar um esporte que mexe com o corpo, com a mente e o pensamento estratégico como o futebol americano”.

Jogos disputados na Arena da Amazônia

Foto: Allan Lira

Arena das Dunas – Segunda Arena do Nordeste em ação

A estrutura fora de campo sempre foi pauta importante para todas as equipes do Nordeste. Os times da região são especialistas em como criar um evento melhor para os fãs da bola oval e como ter dentro e fora de campo um espetáculo até para aqueles que não sabem muito bem sobre o esporte.

Com todo um histórico de bons eventos no estado, o Bulls Potiguares conseguiu fechar parceria para receber os seus jogos da edição 2017 da BFA na Arena das Dunas.

Há onze dias, 2.163 torcedores presenciaram in loco o evento que abriu as portas de mais uma arena da Copa do Mundo para o futebol americano. Em uma ensolarada tarde de domingo, o João Pessoa Espectros venceu por 30 a 06 o Bulls Potiguares e saiu na frente pela competição nacional.

“O feedback foi excelente. Não estamos em uma grande metrópole, então para colocarmos um grande público é difícil. Como nosso jogo teve mais de duas mil pessoas, eles ficaram muito surpresos. Inclusive, o bar, que era por conta deles, foi um pouco deficitário porque eles esperavam menos pessoas. Eles adoraram o público que compareceu ao evento. A Arena tem uma estrutura fenomenal. Ficamos na área mais estruturada da Arena e os torcedores também adoraram. Colocamos um espaço kids, banda marcial, banda de pagode na área vip, fan zone e a praça de alimentação. Foi tudo muito bom.”, comentou Alysson luiz, diretor esportivo do Bulls Potiguares

Em 2015, Brasília V8 e Brasília Alligators fizeram uma partida demonstração durante um evento religioso / Foto: Divulgação / Brasília V8

Mané Garrincha – Tubarões fazendo bonito no Cerrado

O Tubarões do Cerrado surpreendeu as redes sociais ao divulgar que sua primeira partida na competição nacional deste ano será no Estádio Mané Garrincha, um dos grandes templos do esporte nacional.

O duelo contra o Goiânia Rednecks será dia 12/08, com promessa de uma partida eletrizante. No histórico de confronto oficias entre as equipes, os tubarões possuem 2 vitórias contra uma do time goiano.

“Os representantes da secretaria adjunta de turismo de Brasília desde o primeiro contato mostraram-se muito receptivos ao Futebol Americano. Eles pretendem não deixar o Estádio Nacional Mané Garrincha apenas para shows e querem também ocupar o estádio com eventos esportivos. Eles já tinham conhecimento sobre os outros jogos de futebol americano em arenas de Copa do Mundo. Os subsecretários Juliano e Cristiano nos deram total apoio ao evento, chancelado pela Secretária de Esportes e Lazer Leila Barros e o deputado Julio Cesar, que são grandes incentivadores do esporte no Distrito Federal. Toda a diretoria da equipe vem trabalhando intensamente para fazer um grande evento. Será um evento que começará às 12h tendo diversas atrações. O kickoff será realizado às 17h e logo após o término da partida haverá uma festa para o encerramento do evento. Esperamos que com esse evento, o Futebol Americano seja mais reconhecido e, consequentemente, tenhamos mais patrocinadores para o ano de 2018”, comentou Victor Fialho, presidente do Tubarões do Cerrado.

É inegável que mais gestores públicos e privados estão receptivos ao futebol americano nacional. Como Victor Fialho comentou em sua declaração, o conhecimento de outros eventos bem sucedidos nas arenas da Copa do Mundo foi um ponto positivo na negociação junto à Secretaria de Turismo de Brasília.

Foto: Walter Murta

A bola oval construindo seu legado no cenário nacional

Com tantos eventos da bola oval dentro das arenas que foram construídas para a Copa, surge o questionamento sobre se o futebol americano possa ser uma válvula de escape para os gestores conseguirem aumentar o número de eventos rentáveis nas arenas.

O número de novas arenas sendo utilizadas a cada ano é determinante para a tese de que o futebol americano ganhe espaço dentro da ótica dos gestores públicos e de empresas privadas que possuem interesse em patrocinar instituições esportivas fora da bolha do tão conhecido futebol.

Em três anos, o legado da Copa não foi somente as enormes arenas construídas ou reformadas para o maior evento esportivo do mundo. O legado da Copa são os indícios de que as modalidades emergentes não precisam disputar espaço contra o colosso que é o futebol no Brasil, mas que diversos eventos esportivos podem coexistir em um País com tantos espaços propícios para o entretenimento. A imaginação foi muito evocada antes do Mundial. Depois dele, o futebol americano está indo além dela e tornando-se uma surpreendente e agradável surpresa.

4 COMENTÁRIOS

  1. O placar dos duelos entre TDC e Rednecks esta errado. Ano passado foram 2 vitorias do TDC (final estadual e nacional) e uma vitoria do rednecks no primeiro jogo do estadual.
    No total de confrontos incluindo amistosos esta 4 a 1 para o TDC. E em jogos oficiais 2 a 1 TDC

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